A migração intensa de uma equipe para outra e de um campeonato para outro é possibilitada pelo calendário estabelecido pela Federação Paranaense de Futebol (FPF). Diferentemente do que ocorre nos principais regionais do país (Paulista, Carioca, Mineiro e Gaúcho), no Paraná as três divisões ocorrem em épocas distintas.
A particularidade permite possibilidades curiosas aos “ciganos da bola”, como, por exemplo, obter dois acessos em um mesmo ano. A situação, por exemplo, por pouco, não ocorreu com o lateral-direito Cassiano, 31 anos, na temporada 2011.
Depois de disputar a Série A local pelo Roma Apucarana, no início do ano passado, o jogador estava apalavrado com o Toledo para jogar a Segundona do estado, no entanto, acabou assinando contrato com o Foz do Iguaçu. O primeiro subiu; o outro fracassou.
Tristeza? Por pouco tempo. A “redenção” de Cassiano veio vestindo a camisa do Junior Team, de Londrina, que subiu da Terceira para a Segunda.
“Foi mais uma conquista importante e, se não conseguisse [subir com o time], ia ficar frustrado. Então, os acessos não perdem a graça, pois cada um tem uma história diferente”, garante o jogador, que também já havia subido com Portuguesa Londrinense (2001) e Galo Maringá (2005), além de um acesso no futebol paulista com o Guaratinguetá (2004).
O goleiro Danilo, de 26 anos, já foi promovido com seis clubes diferentes do Paraná. Nos últimos quatro anos, contabilizou um acesso por temporada: Nacional (2008), Operário (2009), Arapongas (2010) e Londrina (2011). Para ele, o calendário do estado tem se mostrado vantajoso.
“Se os campeonatos fossem na mesma data, não teria como jogar tudo e muitos ficariam sem atividade durante boa parte do ano”, opina. “Você disputa as diferentes divisões e, se consegue bons resultados, fica em evidência, é valorizado. Eu tive cinco propostas diferentes para disputar a Divisão de Acesso neste ano”, conta o arqueiro.
Importar os “temporários” tem se mostrado um bom negócio. Na Segunda Divisão, por exemplo, o Londrina, de Danilo, utilizou a base do Iraty com mais alguns reforços vindos da Série Ouro e conquistou o título.
O vice-campeão Toledo seguiu a mesma linha. Prova disso é que, dos 11 titulares que entraram em campo na decisão da Série Prata, 10 haviam disputado a Primeira Divisão alguns meses antes.
“Para os dirigentes que estão fora do grupo principal é bom. Em 2011, conseguimos usar jogadores que tinham passado pela Primeira e Segunda [Divisões] e subimos. Até por isso fomos contra qualquer mudança de datas”, reforça o coordenador de futebol do Junior Team, Ariobaldo Frisselli, lembrando-se da recusa da equipe em aceitar a proposta do Paraná Clube de antecipar a disputa da Série Prata de 2012.
Apesar da possibilidade de encaixar jogadores em equipes diferentes ao longo do ano, o empresário Marcos Amaral não considera positiva a troca intensa de times e de competições em uma mesma temporada.
“Sei que, muitas vezes, acaba sendo necessário para o jogador, mas não vejo com bons olhos, porque são períodos curtos nos clubes e sempre existe o tempo de ambientação. Além disso, o jogador não cria identidade nenhuma e não consegue uma visibilidade muito grande”, defende.
Pela legislação, o contrato mínimo de um atleta é de três meses. Diante da falta de um calendário robusto ao longo dos 12 meses, quase todos os atletas firmam termos nestas condições – fato que, aliado ao cronograma paranaense, propicia o nomadismo.
Justamente por maior visibilidade, Danilo pensa em conseguir uma vaga em alguma equipe da Série A ou Série B Nacional após o término do Paranaense 2012. No entanto, se isso não ocorrer, não descarta um novo “tour” pelas outras divisões do estado.
“Às vezes é preciso dar um passo para trás para ir mais longe depois”, diz o goleiro, projetando outra possível temporada cigana.
Fonte: Gazetadopovo