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Disputa da Terceirona estadual beira o folclore.


Daniel Castellano/ Gazeta do Povo / Jogadores do São José se preparam para mais um dia de treinoSentado no escritório da sua loja de veículos, Abílio Bezerra espera pelo telefonema que vai salvar o ano do Cambé. Aguarda uma resposta de algum dos três clubes húngaros onde, desde julho, quatro jogadores do CAC fazem testes. A grande esperança é negociar, com o MTK, Marcos Santos, atacante que marcou seis gols nas seis partidas da excursão do time paranaense ao país de Ferénc Puskas, em junho. Os 200 mil euros esperados com a venda cobrem com folga os R$ 150 mil que o presidente do Galo da Comarca estima gastar na Terceira Divisão do Paranaense.

“[O dinheiro da negociação] Dá e sobra. Até lá, contamos com o auxílio de quatro ou cinco empresários que bancam alguns atletas e trazem verba”, diz Bezerra.A exótica conexão Cambé-Hungria é apenas um dos vários exemplos de como sobreviver aos três meses da Terceirona. Shows de prêmios, empresários e até uma funerária estão entre os investidores dos nove participantes do torneio, iniciado há uma semana com a vitória do PSTC sobre o União Nova Fátima (2 a 1).
O Nova Fátima é um dos exemplos da engenharia financeira necessária para jogar o campeonato. Fundado em 1957, o clube até ano passado disputava ligas regionais e a Taça Paraná. Este ano, um empresário de São Paulo assumiu a presidência e decidiu inscrever a agremiação pela primeira vez em uma disputa profissional.
Não demorou a aparecerem as dificuldades. Sem um grande patrocinador, a solução foi fazer um rateio entre endinheirados da cidade, que mantêm o time prestando serviços ou com investimento direto. No primeiro grupo, uma padaria, um posto de combustível e um restaurante; no segundo, um site e uma funerária. A derrota na estreia já custou o emprego do técnico Osmar Jacaré. “Foi nadar em outra lagoa”, brinca o gerente de futebol Valdecler Peder. O vice-presidente Gilmar Rodrigues, que já acumulava a presidência, assumiu o comando do time.
Correr pela cidade também foi a solução encontrada pelo Francisco Beltrão. Metade dos R$ 140 mil a serem gastos pelo Marreco foi arrecadada com a venda de publicidade estática e no uniforme. A outra metade virá de um show de prêmios marcado para o fim do mês. “Já vendemos todas as cartelas. Os jogadores, que ano passado conviveram com salário atrasado, agora recebem adiantado”, comemora Jair Ribeiro, diretor de promoções, financeiro e marketing.
Na vizinha Pato Branco, Gilmar Resende, empresário da área médica que assumiu o time este ano, simplificou a busca por patrocínio. “Todo o dinheiro é meu. Tenho 50 anos e resolvi me divertir com o futebol. Estou utilizando minha influência na cidade para tocar o time”, conta, sem modéstia.
É a mesma situação do Campo Mourão. Bancada pelo presidente Luís Carlos Kehl, a equipe tem pretensões modestas, proporcionais à aposta no time que disputou o Estadual sub-20. “Os jogadores não são remunerados, recebem ajuda de custo. Damos a eles alojamento, alimentação, estrutura de treinamento e a chance de jogar”, resume o técnico Jocelito Ayala, confiante no entrosamento dos garotos.
É no entrosamento que Colorado, PSTC e Portuguesa Londrinense apostam. O Colorado fez um garimpo nos Grêmios Maringá e Metropolitano, participantes da Segundona local. O clube de onde saíram Kléberson, Jadson e Fernandinho mescla o elenco sub-20 com atletas que disputaram a Divisão de Acesso pelo Cincão. Mesmo campeonato que parte do elenco da Lusinha jogou com a camisa do Nacional de Rolândia.
“O Barcelona dá certo porque está há muito tempo junto, tem entrosamento. Terminando a Terceira Divisão, meus jogadores voltam para o Nacional, jogam a primeira divisão e depois vêm para cá de novo”, diz Edson Moretti, presidente da Portuguesa, ousado na comparação, mas ciente de que o horizonte da Terceirona está mais para a Hungria do que para o Camp Nou.
Fonte: Gazetadopovo
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